
aqui o céu é mais azul e as nuvens reflectem com maior exactidão a paleta de cores que tão bem caracteriza o pôr-do-sol.
aqui há sempre quem parte e quem chega. quem tem de despedir-se daquele ente querido (muitas vezes para sempre) e quem vê a sua metade de si voltar a casa depois de mais um dia de luta, uma batalha campal com fim suposto para por alturas da terceira idade...
neste meio-gás de luz, nesta semi-claridade, os objectos adquirem um contorno disforme, uma definição menos definida. a ameaça de ausência de luz proporciona uma sensação de quase nevoeiro, um esbatimento das características indeléveis de todas as coisas, independentemente do seu tamanho. como uma ponte, por exemplo. esta ponte. esta maravilha da mente humana que permite ligar dois pontos outrora impassíveis de ser ligados.
esta ponte como símbolo da viagem de ida e de regresso, por lazer ou obrigação. esta ponte como símbolo do vazio, onde tantos passam e ninguém fica. esta mesma ponte na qual muito poucos reparam, mas que torna a vida bem mais fácil a mais que muitos.
esta ponte que, ao atravessar este rio neste pôr-do-sol, se esbate, perde por momentos a pose e permite-se descansar da rigidez com que encara a sua função de ponte.
os seus contornos tornam-se consideravelmente menos definidos, fenómeno absolutamente proporcional à quantidade de luz que persiste na estratosfera...
aqui, onde o céu é mais azul e as núvens menos, conduz-se em frente, porque atrás vem gente...